EVELINA GASPAR E OS GATOS
EVELINA GASPAR E OS GATOS

Nasceu em França, no ano de 1974, no seio da comunidade portuguesa emigrada naquele país. No início da década de 80, a família regressa a Portugal, a Tomar, cidade em que a autora vive até se mudar para Vila Nova da Barquinha, onde crescem os seus dois filhos.
Antes de se dedicar seriamente à escrita, cursa Relações Internacionais e trabalha em diversas áreas, nomeadamente na dos transportes rodoviários internacionais, enquanto vai escrevendo contos e diários em blogues que mudam de nome e de cara muitas vezes ao longo dos anos.
O seu romance Na Massa do Sangue foi distinguido com o Prémio Literário Médio Tejo em 2017. Os Dentes do Tejo, vencedor do Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal de 2020, é o seu segundo romance.
Há dois dias, publicou uma crónica sobre Eu e os Gatos no jornal Entroncamento Online. Reproduzo a
primeira parte dela; ” Há dias morreu, com doze anos, o meu gato. Pelo que agora me sinto meio perdida em casa, sempre a olhar para os cantos, à espera de o ver aparecer. Ganhei entretanto a mania ridícula de imaginar que abro os braços, feito um cristo, e que ele surge de algum lado a correr e me salta para o colo, cheio de saudades.
Noto que passei a contar o meu tempo de vida pelos gatos que vou tendo. Estou agora no meu terceiro, e talvez a vida tenha para me oferecer ainda mais dois ou três amigos peludos. O Isaac chegou após a morte do Óscar. Nessa altura eu chorava todos os dias, logo na cama, antes mesmo de abrir os olhos. Uma semana disto, e no trabalho uma colega sentenciou: olha, o que tu precisas é de outro gato. Respondi que não, que não queria nada outro gato, ela que tivesse juízo. Ora acontece que outra colega tinha justamente, nessa altura, em casa uma gata que tinha parido três gatitos e, tendo já dono para dois, procurava quem acolhesse o terceiro. Calculo que os meus olhos inchados a tenham feito pensar que eu seria uma boa candidata, assim sensível e dolorida. No entanto eu não estava interessada noutro gato, queria era o Óscar de volta. A colega, então, persistente, passou a mostrar-me fotografias do gato que tinha para dar, todos os dias, a ver se me fazia a cabeça. E eu, muito torta, dizia-lhe que o gato era feio (não era!) e que não o queria. Mas água mole em pedra dura. Um dia, cansada de chorar, capitulei: bolas, traz lá o raio do gato! “(Continua)

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